domingo, 1 de junho de 2008

Oração

“Oração”
Maria Lacerda de Moura

“Minh’Alma flutua sobre o Cosmos... O Mundo é criação do meu Sonho... Eu sou o Criador de mim mesma... Através de mim perpassam todas as correntes de Amor, refletidas no Arco-Íris de Luz da Grandeza Espiritual dos Cosmos incriados. Sou o Centro irradiador de poder sobre mim mesma, um ritmo no Hino Cósmico, uma nota perdida na orquestra infinita da Beleza, na concepção máxima a que pode atingir a mente humana.
O Amor, o Deus único nos parques silenciosos das minhas Catedrais interiores, canta dentro de mim, o poema da Vida Eterna.
Os ídolos não os reconheço.
Porque... só para Amar foi feita a Vida.
Cada ser é um elo da grande corrente do Amor Universal.
Os erros e os crimes de lesa-felicidade humana – não estou disposta a continuá-los com a cumplicidade do meu Ser. Não Matarás – é o segredo da Esfinge na evolução humana.
Jamais levantarei a pureza dinâmica das minhas mãos para macular o meu Ser no sangue do meu irmão.
Governo todo o meu mundo interior.
Eu sou a Ética e o Juiz da minha própria evolução. Através do meu Ser coam-se todas as luzes e todas as cores e todos os sons e todas as flâmulas de energia do lampadário ondulante da Vida em todas as suas estupendas manifestações.
Eu sou o átomo de Luz, um Criador de serenidade, um dispersador das Forças no grande concerto Cósmico. Eu sou um ritmo colorido e flamante, em Arco-Íris, refletido no Oceano do Amor e da Sabedoria. Eu sou o Artista Absoluto, criador dos meus Sonhos, escultor do meu Pensamento, burilador da estátua do meu Ser, domador do Corcel da minha Vida.
Sou forte. Tenho uma vontade enérgica e perseverante coragem e quero ser um canal por onde perpassem todos os ritmos da Beleza máxima e da máxima Sabedoria.
Sou invencível porque sou o Amor.
Nada pode ser contra mim. E ninguém, absolutamente ninguém, me pode prejudicar. Matei em mim o Medo, o Ódio, a Inveja, a Vingança, o Orgulho, a Vaidade.
Não quero mais despertar a besta-fera adormecida, enjaulada nas criptas profundas do meu inconsciente instintivo.
O Amor transborda no lampadário dos Astros ou no lampejo cintilante do olhar materno, divinizado pela maternidade espiritual.
Saibamos extrair o Amor dos escombros, das ruínas, dos erros e crimes perpetrados por todas as civilizações de bárbaros.
Não sejamos cúmplices dos carrascos do gênero humano.
Glória à Liberdade! Não mais sirvamos de capatazes e escravos, lacaios do dominismo e do servilismo e da covardia do rebanho Social.
A minha pátria é o meu Coração.
A minha pátria é a minha Razão.
A minha pátria é o meu Universo.
A minha pátria não tem fronteiras. Vai até o coração imenso de todo o gênero humano... e considerado suas unidades individuais.
A minha Religião é a Religião do Amor e da Beleza.
A minha Metafísica livre é embalada no “sorriso da dúvida e na música do sonho”. É um Poema... Não tenho Religião porque minha Alma é profundamente religiosa,,, da Religião do Amor, da Beleza, da Sabedoria. Venham a mim os meus irmãos, irmãos, amigos, amigas, inimigos e inimigas. A todos eu Amo com a Sabedoria do Coração.
Apertemo-nos as mãos no gesto altivo e nobre e grande e forte da Solidariedade Individual – para a Paz entre os humanos, para novos e mais altos destinos no seio da Harmonia Cósmica.
Glória à Liberdade! Glória à Sabedoria! Glória à Beleza! Glória ao Amor! Glória suprema Beleza do Amor no coração dos seres humanos.
Glória a tudo que vive e soluça e canta e sonha na escalada magnífica para além do Tempo e além do Espaço.
Glória a todas as estupendas maravilhas do Universo de que cada Ser livre é o Centro Irradiador de Força e Beleza, de Amor e Sabedoria.
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MOURA, Maria Lacerda de. “Oração”. São Paulo (São Paulo): A Plebe (jornal), ano 1, número 6, 31 de dezembro de 1932.

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