quarta-feira, 4 de junho de 2008

Alimentação Viva

Alimentação viva
Ela é mais saudável, natural e, melhor, não prejudica o meio ambiente
Por
Luana Martins • 29/05/2008

Enquanto a vida se torna cada vez mais prática e os alimentos industrializados e semi-prontos se apresentam mais atrativos em meio a correria do dia-a-dia, nadando contra a corrente, surge uma alimentação natural baseada em sementes germinadas, algas, frutas e verduras frescas e orgânicas. Trata-se do crudivorismo. Um hábito que promete vida mais longa e saudável. Mas você sabe o que isso significa?

Os crudivoristas são os indivíduos que consomem os alimentos em seu estado natural, isto é, crus, ou no máximo, desidratados. Ao contrário das comidas cozidas e industrializadas que perderam muitos de seus nutrientes no processo de preparo, essas iguarias, conhecidas como alimentos vivos, preservam suas estruturas moleculares intactas e são ricas em vitaminas, sais minerais, enzimas e outras substâncias benéficas ao organismo. "Dependendo do calor progressivo que o alimento sofre, há uma destruição das enzimas e perda das vitaminas e sais minerais. As gorduras cis se transformam em trans, as proteínas são coaguladas e os açúcares podem ficar invertidos. Dependendo dos processos utilizados na industrialização, os alimentos podem agregar substâncias tóxicas nocivas ao organismo", revela a nutricionista e educadora ambiental Ros'Ellis Moraes.

“Os alimentos vivos não consomem quase nenhuma energia de nossos processos digestivos e criam pouquíssimas toxinas ou reações entre si. Eles fermentam muito pouco e são absorvidos com facilidade”

Segundo o professor húngaro Edmond Bordeaux Szekely (1900-1979), que estudou e experimentou os alimentos vivos na cura de várias doenças, os alimentos disponíveis no meio ambiente podem ser divididos em:

- Biogênicos (geradores de vida), que incluem os alimentos vivos: grãos, sementes, leguminosas, cereais e hortaliças;
- Bioativos (mantenedores de vida), do qual fazem parte as ervas medicinais, nozes, frutas cruas e frescas;
- Bioestáticos (diminuidores de vida), que engloba os alimentos cozidos, refrigerados e congelados;
- Biocídicos (destruidores de vida), que são representados pelos alimentos produzidos com a utilização de hormônios, inseticidas, agrotóxicos, corantes, acidulantes e conservantes que retiram por completo os nutrientes dos alimentos.

Para os crudivoristas, os alimentos industrializados (biocídicos) são justamente a causa do envelhecimento celular e de muitas doenças. "A carne vermelha, os laticínios, o açúcar refinado, as gorduras oxidadas e o sal refinado, além de possuírem uma estrutura molecular incompatível com o organismo humano, podem contribuir para o aparecimento de muitas doenças degenerativas. A forma de produção destes alimentos, com agrotóxicos, conservantes e aditivos libera resíduos tóxicos que se acumulam no corpo", esclarece Ros'Ellis.

Os benefícios

A alimentação viva traz muitos benefícios, tanto do ponto de vista nutricional, como do metabolismo humano. As sementes são os alimentos com a maior concentração de nutrientes que a natureza oferece. Quando hidratadas e germinadas (nome dado à fase inicial de crescimento de uma planta), as sementes multiplicam suas vitaminas, sais minerais e enzimas e favorecem o surgimento de muitas outras substâncias, como antioxidantes e hormônios naturais. "Certas sementes chegam a aumentar alguns de seus nutrientes em até vinte mil vezes depois de germinadas", revela o idealizador do Projeto Alquimia Viva e consultor de Alimentação Viva, Bruno Fernandes.

Os frutos oleaginosos hidratados, por sua vez, são ricas fontes de proteínas e ácidos graxos essenciais, superando os alimentos de origem animal. São também uma boa fonte de cálcio. Já as verduras e frutas frescas e orgânicas, além de contribuírem com as vitaminas e sais minerais, complementam a dieta com proteínas, gorduras e carboidratos.
E os ganhos no sistema digestório são imensos. Enquanto os alimentos cozidos e industrializados exigem uma quantidade enorme de enzimas do organismo para sua digestão - já que eles perderam as suas durante o processo de cozimento - os alimentos vivos fornecem os nutrientes em sua forma bioativa, isto é, eles já vêm com enzimas, não sendo necessário que o organismo gaste as suas. "Os alimentos vivos não consomem quase nenhuma energia de nossos processos digestivos e criam pouquíssimas toxinas ou reações entre si. Eles fermentam muito pouco e são absorvidos com facilidade", afirma o professor e economista Mário Sanchez. Os alimentos vivos ajudam, ainda, na reconstituição da flora intestinal, criando um ambiente favorável para o surgimento de bactérias essenciais ao organismo e na desintoxicação do corpo. Segundo Ros'Ellis, este tipo de alimentação, através de seus nutrientes ativos, fortalece a energia dos rins, aumentando a diurese que elimina as toxinas e limpa o sangue. Ela evita também a prisão de ventre e tem o poder de neutralizar os radicais livres.

Alimentação viva dentro de casa
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Por Luana Martins • 29/05/2008

A germinação é a fase mais nutritiva da semente. Nela, o valor nutricional dos grãos assemelha-se ao de frutas e verduras e os teores de proteínas, vitaminas e minerais estão elevados. Os brotos disponibilizam ainda uma série de minerais, enzimas, fito-hormônios e antibióticos naturais e funcionam como substâncias alcalinizadoras do organismo. O processo de germinação corresponde a uma espécie de pré-digestão, em que as proteínas são decompostas em aminoácidos, os carboidratos em açúcares e as gorduras em ácidos graxos. Assim, as sementes germinadas são de mais fácil absorção pelo organismo.

Existem relatos de que a germinação de sementes para a alimentação humana já era usada pelos chineses três séculos antes de Cristo, como meio de preservar a saúde. Trigo, centeio, aveia e cevada; leguminosas, como soja, lentilha, grão de bico, feijão e ervilha, além de agrião, rabanete, soja, centeio, abóbora, linhaça, girassol e gergelim podem ser germinados e consumidos em saladas, com frutas, mel, leite, grelhados e em diversos pratos. Sua preparação é simples e requer apenas água, oxigênio e calor.

"Sou adepto 100% do alimento vivo, o que mudou e ampliou por completo a minha forma de enxergar o mundo e a vida. Devemos ampliar o nosso conceito de alimentação. Ir à praia, caminhar, respirar ar puro, ter pensamentos positivos, relações saudáveis e afetivas, estar sempre em contato com ambientes naturais é fundamental ."

Para garantir brotos fresquinhos e saudáveis em sua casa, não é preciso muita técnica. Nada de fertilizantes e inseticidas, apenas paciência e dedicação. Primeiramente, escolha algumas sementes. Lave-as e coloque-as em um vidro. Elas devem ocupar apenas 1/8 do recipiente. Cubra com água até a boca. No dia seguinte, escorra a água e lave bem as sementes, colocando-as de volta no vidro sem água. Agora, o recipiente deve ficar inclinado em 45°, com uma tela de filó presa por elástico na boca do vidro para que o ar entre. Deixe o vidro repousando em um local sombreado e fresco. Três vezes por dia, lave as sementes com bastante água potável, até que elas cheguem à fase de broto. Dependendo da semente, a germinação pode variar de quatro a sete dias. Lave e escorra os brotos quando estiverem prontos para o consumo. Para armazená-los, guarde-os no refrigerador em um recipiente forrado com papel toalha para mantê-lo secos e evitar a proliferação de fungos. Você ainda pode fazer farinha com seus grãos germinados. Basta secá-los ao sol, moê-los e coá-los em seguida com auxílio de uma peneira.
Os crudivoristas acreditam que os utensílios usados durante o preparo do alimento influem em sua energia. Portanto, é aconselhável que se dê preferência aos seguintes materiais: vidro, madeira e barro. Mário Sanchez acrescenta a importância de preparar os alimentos na hora do consumo para evitar que a oxidação retire nutrientes dos alimentos.

Mudando os hábitos

Depois de tantos benefícios, talvez você tenha se interessado por esse novo estilo de alimentação. No entanto, mudar de hábitos pode não se um processo tão simples. "Sair da rotina é difícil porque temos o costume arraigado na mente e no convívio com os outros que também o usam. É vício mesmo!", diz Mário Sanchez. O chefe de cozinha, Bruno Fernandes, adepto da alimentação viva há um ano e meio dá a dica: "Se informe, leia, procure conhecer pessoas que já são adeptas. Comece se observando, vendo como seu organismo reage a determinados alimentos. Faça algumas refeições vivas e veja como se sente. Quando você menos perceber já vai estar só no alimento vivo", aconselha.

O tempo de transição varia de acordo com cada organismo. Pode durar semanas, meses ou anos. Ros'Ellis recomenda, então, que o aspirante à alimentação viva observe as necessidades de seu corpo e, aos poucos, inclua alimentos biogênicos em sua dieta até que eles correspondam a 80% do regime. Ela ressalta a importância de se retirar os alimentos como carne vermelha, bebida alcoólica, alimentos refinados e industrializados, refrigerantes e gorduras hidrogenadas e no lugar, incluir alimentos crus, como frutas, verduras e brotos. "Substitua o leite pelo iogurte natural, o açúcar refinado por mascavo; os cereais refinados por grãos integrais. E inclua ainda sucos de verduras e sementes germinadas", acrescenta a nutricionista.
Bruno Fernandes ressalta ainda a importância da combinação dos alimentos. "Eu sigo uma pequena combinação de alimentos que o meu organismo se adapta melhor. Não misturo alimentos doces (frutas) com alimentos salgados e nem frutas doces com cítricas. Já sementes germinadas podem ser consumidas tanto em pratos doces como salgados", conta. E ele garante que os resultados são surpreendentes. "Sou adepto 100% do alimento vivo, o que mudou e ampliou por completo a minha forma de enxergar o mundo e a vida. Devemos ampliar o nosso conceito de alimentação. Ir à praia, caminhar, respirar ar puro, ter pensamentos positivos, relações saudáveis e afetivas, estar sempre em contato com ambientes naturais é fundamental, pois também nos alimentamos desses ambientes. Com a alimentação viva entrei em contato com a natureza e hoje me sinto muito mais bem disposto e tenho hábitos de vida muito mais saudáveis", finaliza.

Alimentação viva > Faça você mesma
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Por Luana Martins • 29/05/2008

Se você se interessou pela nova cozinha, que tal começar experimentando algumas receitas?
Sopa de ervilha germinada.Fonte: Bruno Fernandes

Ingredientes:
200g de ervilha germinada (8h na água e 8h no ar)500g de inhame1 dente de alho500ml de água de cocoSal, shoyo, curry e azeite à gostoModo de preparo:Descasque a ervilha e liquidifique junto com o inhame, o alho e a água de coco. Coloque em um recipiente e adicione os temperos a gosto.

Pavê de Legumes
Fonte: Ana Branco

Ingredientes:
Grão de bico germinado
Nabo germinado
Berinjela
Cenoura
Repolho Roxo
Pimentão amarelo e vermelho
Passas
Para o tempero:
Azeite extra virgem
Missô claro
Manjericão
Canela
Limão
Curry
Alho

Modo de Preparo:
Para fazer o creme, moa o grão de bico descascado com alho, missô e azeite. Reserve. Corte a berinjela descascada em fatias finas e largas. Mergulhe-as na água com limão e escorra. Rale a cenoura e junte o curry. Rale também o repolho roxo e acrescente a ela passas e canela. Pique em pedaços bem pequenos os pimentões. Disponha as fatias de berinjela. Com o creme por cima e o resto dos ingredientes. Decore com o nabo germinado de quatro ou cinco dias sem casca e temperado com manjericão.

Vitamina de leite de castanha-do-pará com banana
Fonte: Bruno Fernandes
Ingredientes:100g de castanha-do-pará germinada (24h na água)200 ml de água de cocoDuas bananasUma colher de melModo de Preparo:
Liquidifique a castanha-do-pará com a água de coco e coe. Bata o leite das castanhas com as duas bananas e adicione as duas colheres de mel.

Suco de Luz do Sol
Fonte: Ana Branco

Ingredientes:
2 maçãs
1 pepino
Grãos germinados à escolha
Folhas verdes (couve, chicória, hortelã)
Legumes à escolha
Raízes à escolha

Modo de preparo:
Coloque as maçãs picadas sem sementes no liquidificador. Bata com a ajuda de um pepino como socador para auxiliar a extrair o líquido que mora dentro dos vegetais. Acrescente um punhado de grãos germinados, folhas verdes comestíveis, como couve, chicória, hortelã, o
legume e a raiz escolhida na proporção indicada, variando as hortaliças sempre que possível e privilegiando as de produção orgânica. Coe num coador de pano e beba logo em seguida.
Ricota de amêndoas com ervasFonte: Bruno Fernandes

Ingredientes:
300g de amêndoas germinadas (24h na água)1 dente de alhoSalsaCebolinhaManjericãoAzeiteSal à gostoModo de preparo:Liquidifique as amêndoas e o alho com o auxilio de uma cenoura (use a cenoura como um socador para ajudar a liquidificar as amêndoas). Coloque em um recipiente e adicione os temperos verdes bem picadinhos, o sal e o azeite e mexa até ficar com consistência de ricota, coloque em um prato de forma de queijo branco.